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CURSO INTENSIVO TÉCNICO EM JORNALISMO
DISCIPLINA: CÓDIGO 0279CECU
INTRODUÇÃO A PRINCIPIOS GERAIS NO JORNALISMO

PRINCÍPIOS DO JORNALISMO
Em 1997, o Comité de Jornalistas Preocupados, uma organização à data administrada pelo PEJ, iniciou um debate nacional entre cidadãos e pessoas relacionadas com a produção de notícias com o objectivo de identificar e esclarecer os princípios fundamentais do jornalismo. Depois de quatro anos de investigação – que incluíra 20 fóruns públicos em todo o país, uma análise da história do jornalismo e um inquérito nacional a jornalistas, entre outras actividades – o grupo lançou a Declaração de Intenções Partilhadas, na qual identificou nove princípios. Esses princípios estão na base do livro The Elements of Journalism, de Tom Rosenstiel – director do PEJ – e Bill Kovach – Presidente do CCJ e Conselheiro Senior do PEJ. Conforme a Declaração de Intenções Partilhadas, esses princípios são:

 

A DECLARAÇÃO DE INTENÇÕES

 

De uma análise aprofundada sobre o carácter do trabalho jornalístico no final do século XX, realizada por jornalistas, resulta uma compreensão comum sobre o que define esse trabalho. O propósito central do jornalismo consiste em fornecer informações precisas e confiáveis aos cidadãos, o que os ajudará a operar numa sociedade livre.

Isso abrange uma miríade de tarefas – ajudar a definir a comunidade, criar uma linguagem e um corpo de conhecimento comuns, identificar objectivos de uma comunidade, heróis e vilões, e pressionar as pessoas para irem além da complacência. As Intenções passam também por outras questões, como o entretenimento, servir como quarto poder e dar voz aos que não a têm.

Os jornalistas desenvolveram nove princípios fundamentais para atender às necessidades dessas tarefas. Os princípios integram o que poderia designar-se teoria do jornalismo:

 

1. A primeira obrigação do jornalismo é a verdade

 

A democracia depende de cidadãos informados por factos precisos e fidedignos, inseridos num contexto significativo. O jornalismo não procura a verdade em sentido absoluto ou filosófico, mas pode – e deve – procurá-la em sentido prático. Esta "verdade jornalística" é um processo que começa com a disciplina profissional de compilação e verificação dos factos. Em seguida, os jornalistas tentam transmitir um relato justo e confiável do seu significado, válido por enquanto, posteriormente sujeito a uma investigação mais aprofundada. Os jornalistas devem ser tão transparentes quanto possível relativamente a fontes e métodos para que o público possa avaliar por si mesmo a informação. Mesmo num mundo de vozes em expansão, a precisão é o alicerce sobre o qual tudo o resto deve ser construído – contexto, interpretação, comentário, crítica, análise e debate. A verdade emerge, ao longo do tempo, deste fórum. Confrontados com um fluxo de dados cada vez maior, os cidadãos têm mais necessidade – não menos – de fontes identificáveis ​​dedicadas à verificação e contextualização da informação.

 

2. A primeira lealdade é para com os cidadãos

 

Enquanto as organizações noticiosas devem responder às necessidades de diversos grupos, incluindo anunciantes e accionistas, os jornalistas nessas organizações devem manter a sua lealdade para com os cidadãos e para com o interesse público mais alargado acima de qualquer outra, de forma a fornecer notícias sem medos ou favorecimentos. Esse compromisso com a primazia dos cidadãos é a base da credibilidade para a organização noticiosa, o pacto implícito que assegura ao público uma cobertura isenta de favorecimentos a amigos ou anunciantes. O compromisso para com os cidadãos também significa que o jornalismo deve apresentar uma imagem representativa de todos os grupos na sociedade. Ignorar certos cidadãos tem o efeito de exclusão. A teoria subjacente à indústria de notícias moderna assenta na crença de que a credibilidade constrói um público amplo e leal, o que, por sua vez, resultará em sucesso económico. Assim, as pessoas de negócios no interior de organizações de notícias também devem nutrir – e não explorar – a sua lealdade para com o público em detrimento de outras.

3. A sua essência é uma disciplina de verificação


Os jornalistas baseiam-se numa disciplina profissional que passa pela verificação de informações. O conceito de objectividade, na sua acepção original, não implicava que os jornalistas fossem isentos de preconceitos. Fazia antes o apelo a um método consistente de verificação da informação – uma abordagem transparente – precisamente para que preconceitos pessoais e culturais não deteriorassem a precisão do seu trabalho. A objectividade seria uma característica do método e não do jornalista. A busca de vários testemunhos, a divulgação da máxima informação possível sobre fontes, ou o comentário de várias facções sobre o mesmo assunto, materializam tais normas. Essa disciplina de verificação é o que separa o jornalismo de outras formas de comunicação, tal como a ficção, a propaganda, ou o entretenimento. Mas a necessidade da metodologia profissional nem sempre é plenamente reconhecida ou desenvolvida. O jornalismo tem desenvolvido diversas técnicas para determinar os factos. No entanto, esforçou-se menos no desenvolvimento de um sistema que testasse a validade da interpretação jornalística.

 

4. Os jornalistas devem manter a independência relativamente aos alvos de cobertura jornalística

 

A independência é uma exigência subjacente ao jornalismo, a pedra angular da sua validade. Independência no espírito e na mente, ao invés de neutralidade, é o princípio que deve guiar os jornalistas. Embora editores e comentadores não sejam neutros, a fonte da sua credibilidade consiste na sua precisão, honestidade intelectual e capacidade de informar – não na sua devoção a um determinado grupo ou resultado. O jornalista, ao manter a independência, deve evitar qualquer tendência para atitudes arrogantes, elitistas, isolantes, ou niilistas.

 

5. Deve vigiar o poder de forma independente

 

O jornalismo tem uma capacidade incomum de vigiar aqueles cujo poder e posição poderão afectar os cidadãos. Os Fundadores reconheceram que este é um baluarte contra o despotismo, o que os levou a assegurar uma imprensa independente; afirmada pelos tribunais; da qual a cidadania depende. Como jornalistas, temos a obrigação de proteger essa liberdade de vigilância, não degradá-la com usos fúteis nem explorá-la para fins comerciais.

 

6. Deve proporcionar um fórum para a crítica e compromisso públicos

 

Os media noticiosos são o suporte comum para o debate público e essa responsabilidade está na base dos privilégios dos jornalistas. Esse debate torna-se mais proveitoso para a sociedade quando orientado por factos e não por preconceitos ou especulação. Também deve esforçar-se para representar de forma justa os vários pontos de vista e interesses presentes na sociedade, contextualizando-os, em vez de destacar somente as franjas conflituosas do debate. A precisão e a veracidade exigem àqueles que enquadram o debate público que não negligenciem os pontos comuns onde os problemas são resolvidos.

 

7. Deve esforçar-se para tornar interessante e relevante o que é significativo


O jornalismo é o relato de histórias com um propósito. A sua actividade deve ir além da simples reunião de audiências ou do catálogo de coisas importantes. A sua sobrevivência depende do equilíbrio entre o que os leitores sabem que querem e aquilo que não podem antecipar, mas de que precisam. Em suma, deve esforçar-se para tornar interessante e relevante o que é significativo. A eficácia de uma peça jornalística é medida pelos graus de envolvimento da audiência e de esclarecimento que lhe é oferecido. Isso significa que os jornalistas devem questionar-se constantemente sobre qual a informação que tem mais valor para os cidadãos, e sob que forma esta deve ser apresentada. Embora o jornalismo deva ir além de temas como governação e segurança pública, um jornalismo dominado por assuntos banais e falsos significativos gera, em última análise, uma sociedade banal.

 

 8. Deve produzir notícias aprofundadas e proporcionais


A veracidade jornalística baseia-se também numa cobertura noticiosa proporcional e que não deixe assuntos importantes de fora. O jornalismo pode ser visto como uma cartografia: produz mapas que informam os cidadãos sobre como navegar na sociedade. A sobrevalorização de alguns eventos que causam sensação, negligenciando outros, a veiculação de estereótipos ou ainda o recurso ao negativismo despropositado resultam num mapa menos confiável. O mapa também deve incluir notícias relativas a diferentes comunidades, e não apenas àquelas com dados demográficos atraentes. As redacções que integram diversidade de origens e perspectivas são as mais aptas a fazê-lo. O mapa é apenas uma analogia, proporção e abrangência são elementos subjectivos; no entanto, a sua indefinição não diminui sua importância.

 

9. Os jornalistas devem ter permissão a expressar a sua consciência pessoal


Todo jornalista deve ter um sentido pessoal de ética e responsabilidade – uma bússola moral. Cada um de nós deve estar disposto, se a justiça e a exactidão assim o exigirem, a transmitir as nossas divergências com colegas, seja na redacção ou na suite executiva . As organizações noticiosas devem nutrir essa independência, incentivando as pessoas a dizer aquilo que pensam. Isso estimula a diversidade intelectual necessária para compreender e cobrir de forma precisa uma sociedade cada vez mais diversificada. Essa diversidade de mentes e de vozes, e não apenas os números, constitui o que realmente é importante.

 

10.  Os cidadãos também tem direitos e responsabilidade no que diz respeito à informação noticiosa.

(em construção)

 

Bibliografia

Kovach, Bill, Tom Rosenstiel (2007) The Elements of Journalism, New York, Three Rivers Press.

Kovach, Bill, Tom Rosenstiel (2010) Blur, How to know what’s true in the age of information overload, New York,, Bloomsbury.

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